Sleeping Dogs mostra que ainda precisa melhorar para ser um clone de GTA

Jogos com mundo aberto são comuns hoje em dia, mas poucos são divertidos a ponto de se consagrarem no gênero. Desenvolver títulos desse tipo é um dos maiores desafios dos desenvolvedores. A produção de Sleeping Dogs foi um grande desafio. Um projeto que havia se iniciado com outro nome (True Crime: Hong Kong), foi cancelado devido a problemas com o antigo estúdio, e ressuscitado pela Square Enix, que apostou na qualidade da franquia – e acertou.

Sleeping Dogs (Foto: Divulgação)

Por isso Sleeping Dogs não é considerado uma nova franquia, apenas tem um novo nome. Dessa forma, existem diversos elementos trazidos dos antigos jogos da série: True Crime – Streets of LA e New York City – para a análise se tornar ainda mais justa, as maiores comparações serão feitas com base nestes títulos, acompanhando a evolução da série.
Contudo, não seria justo falar de um game no qual o jogador comete crimes em uma cidade grande e não colocá-lo lado a lado com a franquia mais famosa desse estilo: Grand Theft Auto. Confira a seguir os pontos fortes e fracos deste jogo, que traz muita imersão em alguns pontos e decepciona bastante em outros.

Sleeping Dogs tem o mesmo estilo de jogo da franquia GTA (Foto: Divulgação)

Protagonista de duas caras
A história de Sleeping Dogs se passa em Hong Kong, e o jogador encarna o detetive Wei Shen, que foi transferido da polícia dos Estados Unidos para o Departamento de Tríades da polícia local. Sua especialidade é ser um agente infiltrado, e suas qualidades são ideais para tentar se envolver na Tríade fictícia Sun On Yee, que foi claramente baseada na Tríade real Sun Yee On.
Wei Shen teve uma infância difícil e solitária, sempre envolvida com membros da Tríade e contando a ajuda de seu melhor amigo, Jackie Ma. O protagonista desenvolveu um desvio de personalidade com o passar dos anos, que faz com que ele não sinta remorso em várias de suas ações, sejam elas boas ou más.
Tal desvio permite que Wei possa realizar missões para a polícia, mas também ajudar os membros da Tríade em assassinatos e outras atividades sinistras, fazendo com que o detetive se beneficie do melhor de dois mundos e nunca se mostre completamente leal a nenhum deles – um personagem com uma personalidade perfeita para o jogador se divertir.

Personalidade ambígua do protagonista de Sleeping Dogs garante diversão aos jogadores (Foto: Reprodução)

Cultura chinesa abundante
O enredo de Sleeping Dogs lembra os filmes policiais chineses, em que praticamente tudo é resolvido na base de socos e chutes. Poucos são os momentos em que Wei empunha uma arma de fogo, se comparados com os momentos de pancadaria incessante. O maior foco na luta corpo a corpo também é demonstrado na jogabilidade, que é bem mais fluída e precisa do que durante os momentos de tiroteio.

As lutas são o ponto mais forte do jogo, pois foi utilizada uma fórmula de combos e contra-ataques já vista em outros jogos de sucesso, como Batman: Arkham City. Isso mesmo, você aplica normalmente seus combos, mas se algum inimigo ameaçar te dar um soco pelas costas, você verá um sinal de que o ataque está chegando, e poderá apertar o botão de contra-ataque, fazendo com que Wei reaja adequadamente ao golpe, de acordo com sua posição em relação à vítima.
O sistema de luta já visto nos jogos do Homem Morcego recebe alguns aprimoramentos em Sleeping Dogs. Além do básico já citado, também é possível agarrar os inimigos pelo colarinho e arrastá-los para pontos específicos do mapa, onde dá para finalizá-los de maneiras brutais. E essa brutalidade é no sentido literal, algo que Batman jamais faria com algum vilão. As possibilidades são muitas: de cabeças trituradas em ventiladores a esmagamentos e empalações. As finalizações dão pontos extras ao jogador e tornam as lutas mano a mano ainda mais divertidas e sangrentas.

São poucos os momentos de tiroteio em Sleeping Dogs. O foco está na luta corporal (Foto: Reprodução)

O mesmo não pode ser dito do combate com armas de fogo. A mira não é bem calibrada, e o que deveria ser o centro acaba sendo o canto da mira. Depois de alguns testes realizados, chegou-se na conclusão de que isso é um erro de calibragem, e não é uma assistência de mira - comum em jogos de tiro nos consoles. Felizmente, este erro pode ser corrigido com uma possível atualização.
Wei pode roubar veículos e colecioná-los na garagem. O controle dos carros e motos é decente, embora tenha alguns problemas e seja um pouco diferente de GTA 4, por exemplo. Existe um botão de drift que faz com que o veículo deslize nas curvas, e deve ser usado com cuidado para evitar acidentes.

Controle de veículos  de Sleeping Dogs é bom e difere um pouco do de GTA (Foto: Reprodução)

Já o controle de lanchas e outras embarcações aquáticas deixa um pouco a desejar, quando o assunto é “sair” do barco. É difícil atracar em algum lugar, mesmo que o jogo te dê instruções de como executar o movimento pressionando um botão. Um outro detalhe a ser notado é a dificuldade de cair das motos. Batidas em alta velocidade muitas vezes não fazem com que Wei saia voando, como era esperado acontecer. Independente do veículo escolhido, a sensação de controle é bem menos polida do que na franquia da Rockstar, especialmente na movimentação da câmera.
Conforme Wei compra alguns veículos, eventos paralelos aparecem no mapa. Grande parte deles são corridas clandestinas que dão pontos de experiência para o personagem. Já os outros são voltados de certa forma para a cultura chinesa. É possível apostar em brigas de galo, jogar uma mistura de mahjong com pôquer (poker mahjong) e até cantar no karaokê. Também há eventos que envolvem hackear câmeras de segurança e usá-las para capturar traficantes de drogas, através do circuito interno que fica em seu apartamento.

Em certos cenários de Sleeping Dogs, é possível fazer finalizações brutais (Foto: Reprodução)

Assim como em GTA, você também pode adquirir propriedade em Sleeping Dogs. Wei terá diversos lugares seguros para passar as noites, e suas moradias podem ser decoradas com itens que são encontrados em vendedores por toda a cidade.
Por falar em pontos de experiência, esta se divide em três categorias no jogo: experiência com a Polícia, experiência com a Tríade e a experiência “Face”. Ao completar ações que beneficiam a polícia ou os bandidos, ganha-se pontos respectivos a eles, e a Face é a experiência obtida ao ajudar pessoas na cidade, realizando diversos favores.
Hong Kong: Terra da chuva

Efeito de chuva de Sleeping Dogs impressiona pela beleza (Foto: Reprodução)

Os gráficos de Sleeping Dogs superam muito os seus antecessores, por razões óbvias de época. Existe um pacote de texturas em alta definição que pode ser baixado gratuitamente na versão PC, para quem se importa com tantos detalhes. A cidade de Hong Kong é retratada com bastante qualidade gráfica, mesmo que de uma forma fictícia. São distritos com nomes reais, ordenados no mapa de uma forma única para o jogo.
Os efeitos de chuva são o que há de mais bonito a se apreciar na cidade, tanto durante o dia quanto durante a noite, embora praticamente todos os dias caia uma chuva de várias horas de duração. Se é assim na vida real por lá, não se sabe. Mas se for, então todo mundo deve levar um guarda-chuva para qualquer lugar – um mero detalhe sem grande importância.

Acostume-se a lavar suas roupas após um dia de trabalho (Foto: Reprodução)

As pessoas no jogo – e especialmente o protagonista Wei – possuem variações na pele e roupas quando se molham ou ficam sujos de sangue, algo bem comum durante as pancadarias. É legal ver seu personagem todo sujo de sangue (dele próprio e dos adversários que espancou), e continuar na sua roupa mesmo depois de muito tempo, só saindo depois que elas são lavadas em seu apartamento.
Em contrapartida, as expressões faciais de todos os personagens são bem pobres, com uma sincronia labial ainda pior em algumas cutscenes. Como de costume, o maior desafio para motores gráficos avançados é a criação fiel de seres orgânicos, sem que eles se pareçam com bonecos de plástico.
Dois destinos e um final

Enredo linear de Sleeping Dogs pode desagradar jogadores dos antigos True Crime (Foto: Reprodução)

O maior ponto negativo de Sleeping Dogs não chega nem a ser os problemas com a mira ou alguns bugs durante a movimentação do personagem pelo mapa, mas sim a quebra de uma tradição na franquia True Crime: a escolha de finais de acordo com suas ações.
Resumidamente, o jogador pode fazer tarefas para a Polícia ou para a Tríade, ganhando experiência em cada um dos lados, mas a história vai acabar colocando o jogador para seguir apenas um caminho específico, deixando todo o enredo mais linear e com um único final disponível. Tal fato pode desestimular os jogadores (especialmente os que jogaram os antigos True Crime) a decidir qual “lado da Força” escolher, sendo que não importa o que você faça, o desfecho vai ser sempre o mesmo.
Conclusão
Sleeping Dogs é um bom jogo que rende dezenas de horas de diversão, ao realizar missões e coletar diversos itens espalhados pela cidade. Mas as falhas de desenvolvimento parecem ter sido herdadas do antigo projeto True Crime: Hong Kong. O que salva o título é a sua forte narrativa e o sistema de lutas bastante funcional, mas não seria justo ignorar os problemas citados, que dificultam a consideração do jogo como um possível clássico, como a franquia da Rockstar.